Eu não sou ATLAS

Filho dos titãs Japeto e Climene, irmão de Prometeu, Atlas que também era chamado de Atlante pertencia a geração divina dos seres desproporcionais e da encarnação de forças natureza as quais estavam preparando a Terra para o recebimento da vida e dos seres humanos.

Ocorreu entretanto um motim, os titãs juntaram-se as forças do caos e da desordem pretendendo atacar o Olimpo. Eles enfrentaram Zeus e os seus aliados, que eram as energias do espírito, da ordem e do Cosmos. Zeus saiu vitorioso e como consequência castigou seus inimigos lançando-os ao Tártaro.

Para Atlas coube o castigo de sustentar para sempre nos ombros, o Céu. Seu nome passou a ter o significado de 'sofredor' ou 'portador', passando a morar no país das Hespérides, as três ninfas do Poente: Eagle, Eritia e Heperatetusa. Nesse lugar estavam plantadas as maçãs de ouro, as quais haviam sido presente de casamento, oferecido pela Terra, nas bodas de Zeus e Hera. A deusa as plantara no jardim dos deuse e, para proteção da árvore, a deixara sob a vigilância de um dragão de cem cabeças e das três ninfas do poente.

Acontece que um dos 12 trabalhos de Hércules era trazer as maçãs de ouro, porém ele havia sido informado que apenas Atlas as poderia colher. Hércules propôs segurar o Céu enquanto Atlas colhia as maçãs, no entanto Hércules o enganou pedindo-lhe para voltar a segurar o céu enquanto ele guardava as maçãs, fugindo em seguida. Por essa razão, foram construídos os pilares Hércules e Atlas foi libertado de seu castigo.

A Atlas coube a tarefa de ser o guardião dos pilares de Hércules, sobre os quais os céus haviam sido colocados, e que também eram a passagem para o lar oceânico de Atlântida - o Estreito de Gibraltar; e por isso toda a cordilheira no norte da África, recebeu o nome de Cordilheira de Atlas. Ele se tornou o primeiro rei de Atlântida e em sua homenagem o oceano Atlântico foi batizado fazendo uma alusão ao seu nome, pois era o Senhor das águas distantes, além do Mar Mediterrâneo.

Casou-se com pleione, tendo sete filhas, as Pleiades: Alcyone, Maia, Electra, Merope, Taigete, Celeno e Sterope. Como ele conhecia o caminho das terras distantes, seu nome passou a representar a coleção de mapas da Terra. Por haver sustentado o Céu, deu-se o nome de Atlas a 1ª vértebra da coluna cervical - referência ao local onde ele suportava o gigantesco peso que fora obrigado a sustentar.

Esse texto foi adaptado do seguinte blog: http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/

Por alguns dias eu achei que poderia ser como Atlas, julgava e fui condicionado a pensar que possuía ombros fortes, em tom de brincadeira numa conversa disse que estava fortalecendo meus ombros na academia. Se sustentar o mundo já é uma tarefa das mais penosas, o que dizer então de estender esse intento ao Universo, aquilo que inicialmente parecia ser uma experiência maravilhosa tornou-se um suplício. O ego humano é um problema sério, por vezes ela desnorteia mentes geniais, fazendo com que estes fiquem 'cegos' por uma ilusão sem sentido.

Primeiro a observação do Mundo...

...Em seguida o fascínio

...depois o tocamos...

...finalizamos brincando com ele.

No filme O Grande Ditador de Charles Chaplin, em uma cena magistral vemos uma ilustração perfeita daquilo que falei. No Salão Principal do palácio de Hynkel (interpretado por Chaplin e representa Hitler), Garbitsch, uma espécie de conselheiro (representa o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels) faz com que surja em Hynkel o desejo de ser o "Imperador do Mundo".

Essa cena mostra que por mais que tentemos uma tarefa de tal magnitude resultará em fracasso "O mundo acabará por estourar" na verdade não é o mundo, mas sim a nossa ilusão de o tomarmos sob o nosso controle.

Essa foi a sensação que tive quando queria ser Atlas.

Percebemos também o efeito da fala de Garbitsch sobre Hynkel. É incrível como o ser humano gosta de ser enganado quando isso lhe insufla o ego. Por alguma razão que não sei explicar ao certo temos uma necessidade muito grande do reconhecimento alheio, mesmo que este seja tão falso como uma nota de 3. Isso me leva a crer que adoramos ser enganados quando isso nos convém (nisso consiste o êxito dos ditos 'puxa-sacos').

O perigo estar em acreditar no engano...

Sobre isso Schopenhauer disse:

"Aquilo que representamos, ou seja, a nossa existência na opinião dos outros, é, em consequência de uma fraqueza especial de uma natureza, geralmente bastante apreciado; embora a mais leve reflexão já nos possa ensinar que, em si mesma, tal coisa não é essencial para a nossa felicidade. Portanto, é difícil explicar o quanto cada homem se alegra interiormente todas as vezes que percebe sinais de opinião favorável dos outros e sua vaidade é de algum modo adulada. Tão infalivelmente quanto o ronronar do gato ao ser acariciado, um doce deleite aparece retratado na fisionomia do homem que se elogia, sobretudo na esfera de suas pretensões, mesmo se o elogio for uma mentira palpável".

(Os créditos dessa última imagem e dessa citação de Schopenhauer são devidos a minha 'companheira intelectual')

Dar conta dos meus problemas já não está sendo nada fácil, o que dizer então dos problemas do mundo como um todo?! Por essas razões ser Atlas não me é mais um privilégio como eu pensava outrora, mas sim uma imensa maldição, a qual sou grato por não ser portador da mesma.

Após analisar a situação de Atlas (ter vivenciado em mim mesmo), a seguinte citação de Schopenhauer tornou-se extremamente clara para mim:

"Se é verdade que um Deus criou o Universo, eu não gostaria de ser Ele. A sua miséria e o seu infortúnio quebrantariam o meu coração".