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domingo, 7 de julho de 2013

Luzes da Cidade - O Essencial é invisível aos olhos


Luzes da Cidade é o filme de Chaplin que eu mais gosto e há muito tempo eu tenho vontade de escrever umas poucas palavras sobre ele. Foi lançado em 1931 e a sua estreia contou com a presença de Albert Einstein. Conta-se que durante esse encontro apareceu uma enorme multidão para prestigiá-los e então Chaplin teria falado a Einstein «As pessoas aplaudem-no porque nenhuma delas o entende e aplaudem-me porque todos me compreendem».



Charles Chaplin e Albert Einstein na estreia do filme Luzes da Cidade

A ideia chave desse filme é mostrar que o essencial é invisível aos olhos, como disse Antoine de Saint-Exupéry e que só se vê bem com o coração. Outra interpretação que podemos tirar desse filme é que o Amor é cego e essa interpretação serve para fechar a minha série de textos sobre o Amor.
Dito isto passemos a exposição de alguns pontos chaves do filme. Recomendo para aqueles que ainda não o assistiram que parem a leitura nesse exato momento, pois informações do enredo serão descritas a seguir. Existe uma versão completa dele no youtube, para assisti-lo clique aqui.

O filme se desenvolve através de uma sucessão de 'erros' e confusões, tema este muitas vezes visitado no cinema de Chaplin, como por exemplo no filme o Pastor de Almas de 1923, o Circo de 1928 e o célebre O grande Ditador de 1941 - neste, esse tema foi usado da forma mais brilhante no cinema Chapliniano. O erro surge quando Carlitos tentando escapar da polícia entra por um lado de uma limusine e sai pelo outro. Ai reside o clímax e base sob a qual se desenvolverá toda a trama. Após o erro vem a confusão, que surge do fato da florista que se encontra na calçada ser cega, de modo que o bater da porta da limusine pelo vagabundo dá a ela a impressão que ele é afortunado. Chaplin demorou 534 dias até encontrar essa solução para o encontro entre o vagabundo e a florista. A solução de tão simples é genial. Chaplin empreendeu tanto tempo e esforço nessa cena não só por ser um exímio perfeccionista, mas por essa cena ser de vital importâmcia para os eventos que sucederão no filme. Ironicamente, o som que ele se recusou a usar nesse filme (diálogos) foi o que lhe inspirou  a ter essa ideia, devemos notar no entanto que o som do bater da porta não é audível para o espectador, apenas fica subentendido.
No ano de 1967 o próprio Chaplin comentou sobre essa cena, a qual descrevo a seguir:
"Em 'Luzes da Cidade', a florista cega, ali tem uma linda dança. Tudo o que eu faço é uma dança. A garota estende a sua mão com uma rosa. O vagabundo, que não sabe que ela é cega, diz, 'Eu levarei esta aqui'. 'Qual?'. Ele olha para ela pensando, 'Que garota idiota!'. A flor cai no chão e a florista se abaixa para sentir onde ela está. Eu pego a flor e a fico segurando por alguns momentos. Ela fala, 'Você achou?'. Daí ele percebe. Ele segura a flor na frente dos seus olhos, faz somente um gesto. Pura dança".
Carlitos tratando a florista com desdém antes de saber que ela era cega.

A outra confusão que é vital para o desenvolvimento da história é a que se estabelece quando Carlitos salva a vida de um milionário embriagado excêntrico. Este sempre que está bêbado toma Carlitos como um grande amigo não lhe negando algum favor que o vagabundo porventura lhe peça, mas quando sóbrio o ignora completamente. É nos momentos de embriaguez do milionário, que Carlitos pode se passar por um, alimentando a ilusão que fora provocada na florista.

Carlitos impede que o milionário cometa o suicídio.
Carlitos deixando sua amada em casa após um passeio no carro do milionário.

O filme se desenvolve, Carlitos lê no jornal que um médico descobriu a cura para a cegueira e ele se empenha em conseguir o dinheiro para realizar a cirurgia e também pagar o aluguel da casa da sua amada. Sem o apoio do milionário, ele decide arrumar um emprego chegando a ser até lutador de boxe, uma das cenas mais engraçadas de toda a sua obra.
Na luta de boxe.

Em outra confusão gerada na trama, Carlitos é injustamente o suspeito de roubar o milionário e antes de se entregar a polícia passa na casa da florista para lhe dar o dinheiro do aluguel e da sua cirurgia, em seguida despede-se dela dizendo que passará uns tempos sem lhe dar notícias.
Meses depois, ao sair da cadeia com as roupas tremendamente gastas e visual bem maltrapilho ele passa no lugar em que conheceu  a florista, mas não a encontra. Ele então perambula pelas ruas, se envolve em uma confusão com uns guris na rua que lhe enchem a paciência, isso permite o desencadear final da história, o reencontro entre o vagabundo e a florista, esta última agora uma empresária dona de uma bela floricultura e pode enxergar. Carlitos fica encantado ao vê-la, ela todavia acha a cena muito engraçada e nem sequer imagina que aquele 'vagabundo' é o homem que pagou-lhe a operação dando-lhe a 'luz aos seus olhos'. Carlitos então percebe a situação e tenta ir embora, mas ela então o chama para entregar-lhe uma flor e dar-lhe uma moeda, ao fazer isso ela toca na mão dele e então instantaneamente ela percebe que aquele homem maltrapilho a sua frente foi aquele que fez de um tudo para ela. Então bate-lhe uma espécie de remorso no olhar e um sentimento de culpa, quando então ela pergunta 'Você?', Carlitos então gesticula com a cabeça afirmativamente, todo sem jeito, em seguida faz uma pergunta simples mas imensamente profunda 'Você pode ver agora?', ela com olhar tristonho balança a cabeça num gesto afirmativo. O filme então se encerra com um close magnífico no semblante de Carlitos nunca visto antes ou depois em toda a filmografia de Chaplin (no filme o Grande Ditador, também é dado um close na figura de Chaplin, mas não tão aproximado quanto aqui e além disso, em Luzes da Cidade o semblante é de fato o de Carlitos -personagem-, enquanto que no Grande Ditador o semblante é do próprio Chaplin - pessoa -). No rosto do Vagabundo estão expressas a sensação de dor, vergonha, orgulho e amor todas ao mesmo tempo, gerando um efeito semelhante ao das cores do arco-íris que quando juntas desaparecem formando a cor branca.
 
Abaixo segue a sequência de imagens do reencontro entre Carlitos e a florista, vendo-as é fácil verificar que imagens falam muito mais que palavras, talvez tenha sido por isso que o próprio Chaplin foi tão relutante ao advento do cinema falado, nas palavras do mesmo: 
"O som aniquila a grande beleza do silêncio"

Ao tocar a mão de Carlitos ela percebe que aquele homem maltrapilho a sua frente é o seu admirador que ela imaginava ser rico...
Um misto de surpresa e remorso se apoderam do olhar da florista...
Ela apalpa o vagabundo a fim de ter certeza de que ele é de fato o seu amado...
Finalmente a fica caiu....
O antológico olhar de Carlitos com o qual o filme termina.


Em Hamlet encontramos os seguintes dizeres "Existe mais coisas entre o Céu e Terra do que possa julgar a nossa vã filosofia". Chaplin mostrou que para com as pessoas existem muito mais coisas do que os nossos olhos são capazes da captar.

Nos créditos dos filmes de Chaplin que sucederam a Luzes da Cidade não é feito mais referência ao "The Tramp", embora o visual de Carlitos ainda tenha aparecido em Tempos Modernos e O Grande Ditador.
Só nos resta imaginar o que sucedeu a esse reencontro...

Um comentário:

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